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Foto do escritorAndré Nogueira

O que fazer durante as quedas de mercado? | #05

Atualizado: 26 de set.

Não fazer nada? Vender? Comprar?

Um breve insight sobre alocação de ativos.


Com os mercados "derretendo" ao redor do mundo, qual a melhor coisa a se fazer, relacionada aos seus investimentos pessoais? Melhor não fazer nada? Comprar títulos públicos? Seria a hora da renda fixa? Deveria vender as ações e comprar novamente quando estiverem subindo? Mas, quanto a esta última, vender quando o mercado está em baixa e comprar quando o mercado está em alta não é uma receita para obter retornos medíocres? Devo adaptar minha estratégia de acordo com o momento?


Apesar de imaginarmos que já se deveria compreender que vender na baixa e comprar na alta é uma péssima estratégia, continuamos a observar, vez após vez, frases como "a bolsa é um lixo", "agora não é hora de comprar", "vai cair mais", "ainda não é o fundo", "o CDI 'sempre' vence do IBOVESPA", "há uma recessão à vista". E o oposto ocorre nos períodos de alta: pessoas eufóricas buscando os papéis do momento, publicando seus ganhos (o medo, nesse segundo caso, é de perder uma oportunidade enquanto todos os outros estão lucrando, o chamado FOMO — fear of missing out). Por mais óbvio que seja — que vender nos momentos de baixa e comprar nos momentos de alta não seja uma boa estratégia — as pessoas permanecem fazendo isso. E por mais que imaginemos que isso talvez deixe de acontecer algum dia, pela quantidade de informações que temos disponível, isso continua, e continuará, acontecendo. Os vieses emocionais das pessoas vêm à tona, o desespero bate, e querem logo vender as ações para que não vejam o patrimônio se desvalorizar. Então, esperam até um próximo "bom momento" para comprarem ações novamente. O grande problema disso é que as chances são grandes de que o "bom momento" para comprar será um momento em que o investidor já terá perdido uma pernada de alta (possivelmente relevante, inclusive).


Não podemos saber qual o melhor momento para comprar ou vender. Por exemplo, apesar de ter possuído convicções que se provaram verdadeiras sobre a crise de 2008, nem mesmo Michael Burry acertou o momento certo de entrar vendido, tanto que passou meses tendo prejuízo na operação antes de finalmente obter retorno.


Observe, em suas operações pessoais, a frequência em que as ações tomam um sentido contrário ao desejado após uma compra ou venda. Não há como saber o melhor momento. Mesmo aqueles que acertam o momento certo com precisão, precisam ponderar se o acerto foi sorte ou mérito, de fato. Há muitas variáveis envolvidas nos preços dos ativos — algumas delas impossíveis de serem conhecidas.


Visto que não podemos prever o futuro e nem saber quais são os momentos ideais para comprar ou vender, o que fazer então?


Devemos elaborar uma estratégia de alocação de ativos e segui-la. Eu explico.


Primeiro, é necessário estabelecer alguns critérios quanto aos nossos investimentos. Quanto dinheiro alocar em renda fixa, quanto em renda variável? Em renda fixa, qual porcentagem estabelecer para títulos públicos, títulos privados, títulos pré-fixados, títulos pós-fixados? Em renda variável, quanto disso vai para fundos imobiliários? Para ações? Para ações estrangeiras? E assim por diante. Esses critérios — a porcentagem determinada para cada classe de ativo — precisam ser estabelecidos de acordo com o perfil do investidor. Se o investidor não consegue dormir por causa de grandes quedas nos mercados de bolsa, por exemplo, isso significa que ele não pode estar muito exposto a esses mercados, devendo alocar maior parte do dinheiro em ativos menos voláteis — na renda fixa, de preferência. Depois disso, definir um período para fazer os rebalanceamentos. O ideal é que esse período seja entre 3 e 12 meses. Períodos inferiores a 3 meses fazem com o investidor tenha que dedicar muito tempo aos investimentos, e que os gastos com taxas e corretagens se tornem elevados. Períodos maiores que 12 meses fariam com que a carteira perdesse potencial rentabilidade.


Assim que esses critérios estejam estabelecidos, eles não devem ser modificados (pelo menos não num período curto, mas quem sabe ser revisado a cada 10 anos). Seguir à risca uma alocação de ativos permite que o investidor consiga comprar ativos que estão em baixa e vender aqueles que estão em alta, maximizando ganhos. (Lembrando que somente a alocação de ativos não determina se as escolhas dos ativos individuais feitas pelo investidor serão boas escolhas).


"Se você esperar tempo suficiente num ponto de ônibus, você pegará um ônibus. Mas se você correr de ponto em ponto, pode ser que nunca pegue um." — Howard Marks

Para entender melhor, dou um exemplo. Imagine dois investidores. Os dois começam investindo $100.000. 50% em renda fixa e 50% em renda variável. O primeiro não possui critérios de rebalanceamento. Já o segundo, fará rebalanceamento a cada 3 meses. (Nos rebalanceamentos, após ocorrer uma variação do valor patrimonial alocado nas diferentes classes de ativo, o investidor vende aquilo que se valorizou mais para comprar aquilo que se valorizou menos — ou aquilo que tenha se desvalorizado. Assim, a cada período que passa, o investidor coloca sua carteira em equilíbrio novamente, vendendo nas altas e comprando nas baixas). Para esse exemplo, vamos estabelecer que a renda fixa esteja pagando 1,5% ao trimestre — aproximadamente 6,14% ao ano.


Investidor 1


Investidor 2


Observem as carteiras de ambos os investidores. O investidor 1 obteve um retorno pior, passando por muito mais volatilidade. O desvio padrão dos retornos da carteira 1 foi de 9,99%, enquanto da carteira 2 foi de 8,9%. É provável que, se o investidor 1 ficasse tentando adivinhar o "momento certo" para investir na bolsa, ou o "momento certo" de vender um pouquinho (imaginando que haveria uma queda em seguida), o retorno seria menor do que o retorno obtido. (Lembre-se que os mercados antecipam os movimentos. As chances de alguém saber antecipadamente sobre algo desconhecido por outros são insignificantes. No momento em que determinado fato vêm a público é muito provável que o movimento já tenha acontecido).


Já o investidor 2 obteve um retorno superior ao investidor 1. E isso aconteceu passando por uma volatilidade menor. Observe que, durante a maior queda do mercado, a carteira do investidor 1 sofreu queda de 25%, enquanto a carteira do investidor 2 caiu 20%. Quer dizer, o investidor 2 obteve um retorno superior correndo um risco menor que o investidor 1, passando por menos volatilidade, o que permite que o investidor sobreviva às crises e reduza o estresse causado pelas flutuações negativas de patrimônio. Isso aconteceu porque a cada rebalanceamento o investidor 2 vendia um pouquinho do que subiu nos momentos de alta, e comprava um pouquinho do que caiu (ou que se valorizou menos) nos momentos de baixa, equilibrando a carteira periodicamente conforme o estipulado previamente — ajustando sua carteira ao risco tolerado.


Essa mesma estratégia de alocação pode ser seguida dentro de cada classe de ativo. Numa carteira de renda variável, por exemplo, como dito no início, é interessante estipular quanto alocar em fundos imobiliários, quanto em ações brasileiras, quanto em ações estrangeiras (ou em quaisquer ativos estabelecidos numa estratégia). E entre as ações, quanto alocar na empresa XYZ, quanto alocar na ZYX, e assim por diante. A cada rebalanceamento, ao colocar a carteira em equilíbrio, o investidor estará vendendo nas altas e comprando nas baixas, aprimorando seu retorno ajustado ao risco. Relembrando que cada investidor possui um perfil próprio, e uma tolerância ao risco própria. Cabe a ele ponderar como fazer essas divisões. (Naturalmente que pode, sim, haver o auxílio de um profissional, de preferência alguém certificado por um órgão regulador — um planejador financeiro CFP, ou um gestor CGA, por exemplo).


Então, o que fazer durante as quedas? Siga sua estratégia. Não fique "pulando de galho em galho". Certa vez, Howard Mark disse o seguinte: "Se você esperar tempo suficiente num ponto de ônibus, você pegará um ônibus. Mas se você correr de ponto em ponto, pode ser que nunca pegue um." Alguém que altera a estratégia de investimento (ou que troca de fundos de investimento) constantemente, talvez buscando (ou esperando) o melhor momento, conforme o que o investidor imagina que vá acontecer, é como a pessoa que, em vez de esperar num determinado ponto de ônibus, corre de ponto em ponto tentando pegar um ônibus — ele pode até subir num ônibus, mas não chegará ao destino antes que alguém que esperou no primeiro ponto.


Escolha o ônibus que quer pegar e vá até seu ponto. Estabeleça critérios e siga-os. Faça isso o quanto antes.

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