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Foto do escritorAndré Nogueira

O valor do dinheiro e o valor do trabalho | #04

Atualizado: 24 de mar. de 2023

O que é mais importante? A qual se dá maior valor?


O que você valoriza mais: o dinheiro ou o trabalho? Pois frequentemente vejo pessoas que valorizam mais o primeiro. Acho interessante como as pessoas não se apercebem disso nelas mesmas. Observo muitas pessoas reclamando de seus empregos, de seus salários, de seus patrões, e reclamam também que alguns acumulam (muito) mais dinheiro (ou patrimônio) do que é necessário. Mas eu pergunto: será que estão dando valor à coisa certa, ou será que estão valorizando o que é menos importante? Tire alguns minutos e pense sobre isso. Será que não estão atentos demais ao valor monetário dessas coisas?


A partir do momento em que um indivíduo se incomoda com um colega (ou qualquer outra pessoa) que possui mais dinheiro do que ele mesmo, esse é um idicativo de que suas prioridades estão na ordem errada, inverteu os valores das coisas. Esse é um indício de quanto o indivíduo valoriza o dinheiro, mesmo que ele negue isso. Alguém ainda poderia colocar em questão o fato de que, enquanto alguns possuem patrimônio de bilhões de dólares, há outros passando fome. É injusto que haja pessoas passando fome, de fato! Mas me pergunto: "Será culpa dos bilionários, a fome do mundo? Poderia o dinheiro resolver a fome?" E a resposta é simples: o dinheiro não pode resolver o problema da fome. Na realidade, o dinheiro resolve poucos problemas — em geral, resolve apenas problemas imediatos, como pagar as contas ou trocá-lo por um bem necessário. Mas certas pessoas dão tanto valor ao dinheiro, que acreditam seriamente que dinheiro solucionaria os problemas do mundo; que distribuir dinheiro auxiliaria em questões sociais. Será que adiantaria? Como o dinheiro resolveria esses problemas? Qual a importância que se dá ao dinheiro, a ponto de chegar a conclusão que dinheiro resolve problemas tão complexos? Pare e pense.


As visões estão distorcidas. A verdade é que se valoriza o dinheiro exageradamente. O dinheiro se transformou em uma espécie de deus para as pessoas. A sociedade está em uma busca constante pelo dinheiro, se tornando escrava desse amo. Não estou dizendo que dinheiro é algo ruim. Não considero que seja. Inclusive, para todo item produzido ou serviço prestado é importante que exista uma recompensa, pois a recompensa é uma mensagem de que aquilo que alguém ou empresa faz é bom, que é necessário. Ponho em questão aqui, o fato de muitos considerarem o dinheiro como solução para os problemas. Se as coisas essenciais para viver estão caras demais, isso significa que precisamos de mais dinheiro? Ou há algo um pouco mais profundo nessa questão? Abordaremos isso adiante.


Ainda debaixo desse tópico, gostaria de fazer um detour sobre um tema atual e recorrente:


Seriam os bilionários os maiores servos do dinheiro, os adoradores mais fiés desse amo, sendo pessoas gananciosas e egoístas? Afinal de contas, eles estão cheios de dinheiro. Eu enxergo que é diferente disso. As pessoas que têm o dinheiro sob seu controle, sabem fazer com que o dinheiro trabalhe para elas. Na verdade, elas fizeram do dinheiro o seu escravo. São pessoas que entenderam o que é a "riqueza pessoal", a "riqueza própria" — essa riqueza não se refere ao tamanho do patrimônio dela, nem a quantia de dinheiro que possui, mas o tipo de mentalidade que possui. Elas pararam de correr atrás do dinheiro, e aprenderam a fazer com que o dinheiro corra até elas — deixaram de ser escravas desse amo.


"No entanto, eles não deixam de ser egoístas", talvez alguém afirme.


O que muitos não enxergam quanto aos bilionários, é a contribuição que essas pessoas fizeram (ou fazem) para a humanidade. Quanto maior a escala e mais significativa a contribuição de alguém para a humanidade, mais esse indivíduo é retribuído com dinheiro. Para alcançar tal feito, é necessário muita determinação, trabalho e dedicação — coisas que poucos estão dispostos a fazer. Como seria isso, egoísmo? Mesmo que eles façam por egoísmo, não costumamos, nós mesmos, trabalhar por egoísmo — pela nossa própria recompensa? Qual a diferença nesses dois casos? Além disso, o egoísmo deles não é benéfico para nós? Não nos beneficiamos dos serviços que eles oferecem? Os bens e serviços que eles ofertam não colaboram para a nossa vida, trabalho ou bem estar?


Se alguém enxerga apenas egoísmo em quem possui um grande patrimônio, é porque está valorizando demais o valor monetário disso, e pouco o trabalho e feitios realizados.

Se alguém está disposto a se arriscar, sacrificar tempo, e a se esforçar arduamente para contribuir grandemente para a humanidade, nada mais justo que receber uma retribuição. Em nossa sociedade, a contribuição é monetária, e ela pode ser bem menos recompensadora do que se imagina — basta observar como raramente estamos satisfeito com o dinheiro que recebemos e, também, como o dinheiro pode destruir famílias, tornar alguém sozinho e/ou miserável. O que alguém faz com o dinheiro, como o utiliza e como o enxerga é o que realmente importa. Quanto mais alguém utiliza dinheiro para criar riquezas (bens e serviços) para a humanidade, mais essa pessoa será recompensada. Se alguém considera o acúmulo exagerado de patrimônio como puro egoísmo, é porque está valorizando demais o valor monetário disso, e pouco o trabalho e feitios realizados. (Isso sem contar que a medição monetária de patrimônio é, de certa maneira, simbólica. Primeiro, porque o dinheiro que utilizamos hoje é fiduciário — não tem lastro algum, seu valor está na crença das pessosa que a moeda possui valor. Segundo, que aquele não é um dinheiro disponível na conta de banco de alguém, aquele é o valor de mercado dos bens e ativos que essa pessoa possui. Alguém que possui 1% das ações de uma empresa que vale US$ 1 trilhão, por exemplo, "apenas" significa que ela é proprietária de 1% daquela empresa. Isto é o que ela de fato possui: 1% da empresa. Já o valor desse 1% é ditado pelas pessoas — o tal "mercado").


Mas, como dito, o dinheiro não é a melhor recompensa. A melhor recompensa costuma residir no senso de propósito realizado, de tarefa cumprida, de ter agregado valor à vida de alguém ou à humanidade. Qualquer pessoa muito rica financeiramente, que tinha como objetivo final a riqueza em si, acaba se sentindo vazia ao alcançá-la.









Riqueza


Agora, convido o leitor a fazer um breve exercício. Um exercício para entender o que é riqueza. Muitos confundem dinheiro com riqueza quando, na verdade, são coisas diferentes (o dinheiro é uma forma de riqueza — mas não é riqueza em si).


Costumamos imaginar que o dinheiro resolveria todos os nossos problemas (já adianto que não resolveria). Então imagine o seguinte cenário: você se encontra numa ilha isolada. Não há nada, senão apenas você, 500km² de natureza (fauna e flora) e 1 bilhão de dólares. Quais são os possíveis problemas que você vai enfrentar nessa situação? Você precisará se hidratar, se alimentar, se proteger da chuva, do frio (precisará de um abrigo e de roupas para se esquentar), e de possíveis ataques de animais. Agora, eu pergunto: "Como aqueles 1 bilhão de dólares são úteis para você?" Você está cheio de problemas para resolver, e um (quase inútil) bilhão de dólares. A melhor utilidade que você pode dar a todo esse dinheiro (que eu consiga imaginar agora) é queimá-lo para fazer fogueiras para se esquentar nas noites e dias frios, esquentar a comida e ferver a água. De todos os problemas que você está enfrentando de imediato, o dinheiro resolve apenas um, diretamente — acender fogueiras, sendo que esse nem sequer é o propósito ao qual ele foi inventado, podendo ser subsitituído por palha seca e tocos de madeira. Todas as dificuldades que você está enfrentando só podem ser resolvidas com uma solução: o trabalho! Pois você terá trabalho para construir o abrigo, procurar comida (caçar, plantar e colher), e montar fogueiras. Tudo o que você produzir neste local é o que chamamos de riqueza. Portanto, riqueza é tudo aquilo que produzimos. Riqueza só se produz através de trabalho e resolução de problemas.


Leve isso para a vida real, e eu pergunto: "Quais dos seus problemas não podem ser resolvidos através do trabalho?" Se há uma pia entupida, um vazamento, uma parede trincada, uma lajota quebrada, como se resolve? Podemos assumir o trabalho de arrumar, ou contratar alguém para fazê-lo. Mas ambos os casos envolvem trabalho, pois há trabalho a ser feito. Até mesmo as contas e dívidas a pagar — que dependem do dinheiro — podem ser resolvidos com o trabalho. Trabalhando mais, ou talvez melhor, e com mais inteligência, receberemos mais recompensas. E para sermos recompensados, precisamos resolver os problemas dos outros! Quanto maior o impacto do nosso trabalho na vida de alguém, maior a recompensa.


Diferentemente da situação naquela ilha isolada, vivemos em sociedade, o que se mostra uma grande vantagem para todos os humanos, pois não precisamos realizar todas as tarefas necessárias. Alguns produzem alimentos, outros transportam esses alimentos, outros vendem. Alguns criam animais, outros transportam os animais vivos, outros abatem, outros transportam a carne, outros a compram e revendem. Alguns plantam árvores e as vendem brutas para aqueles que tratam a madeira, outros compram a madeira tratada, transformam em produtos e vendem.


Imaginem quantas pessoas estão envolvidas na produção de um celular, por exemplo, ou de qualquer outro produto eletrônico. Há quem tenha extraído os minerais metálicos, os derivados de petróleo, os derivados de silício; há quem tenha processado e tratado esses materiais crus; há quem tenha comprado os materiais e transformado em chips; há quem tenha inventado o design interno do celular, quem tenha inventado o design externo, quem tenha inventado o software, o design do software; há quem tenha produzido a câmera e as lentes, a carcaça, a tela; há quem tenha feito o transporte de tudo isso em cada etapa do processo, até que finalmente seja vendido e entregue a nós. Cada uma dessas etapas pode ter sido realizada em um local diferente do planeta. (Para quem se perguntou: sim, essa ilustração foi completamente inspirada no vídeo do Milton Friedman em que ele considera quantas pessoas estão envolvidas na fabricação de um simples lápis).


Ainda há aqueles que resolvem problemas e vendem seus serviços: o médico, o contador, o advogado, o profissional de TI, o arquiteto, o consultor. Todos esses se esforçam arduamente para resolver os problemas de seus clientes. O que eles fazem é agregar valor à vida das pessoas. Quanto maior o valor agregado, maior a recompensa que se recebe, pois isso é algo natural. Quanto maior o esforço de um terceiro para conosco, ou quanto mais importante é a atitude de um terceiro para conosco, mais nos sentimos gratos. Basta imaginar caso fôssemos resgatados de um incêndio — ou de qualquer situação em que estivéssemos em risco de morte e que fôssemos salvos. Nossa gratidão pela pessoa que nos salvou é incomparável.


Uma vida é impagável. No entanto, um serviço contratado pode ser cobrado e pode ser pago. Dependendo do tamanho do problema que um profissional resolveu, nos dispomos a pagar valores "do mesmo tamanho" do problema resolvido. Não à toa eu acredito que um serviço bem prestado é merecido de uma bela gorjeta. Essa é uma maneira de mostrar gratidão pelo serviço prestado. A gorjeta será uma mensagem para que aquela pessoa continue fazendo aquilo. Pense nisto: "as pessoas reagem a incentivos".


Agora, pergunto novamente, para reflexão do leitor: "Qual honra se dá a todos esses profissionais? Não é — todo trabalho honesto — digno de honra? E se é digno de honra, por que apenas alguns seriam dignos e outros não? Seriam os pobres (financeiramente) menos dignos? Seria o 1% mais rico menos digno?" Se o trabalho é honesto, a dignidade é a mesma! E eles são igualmente importantes. Todos esses trabalhos (honestos) geram riquezas. E as riquezas são benéficas para toda a sociedade.



Por que riquezas são importantes?


Talvez, alguns acreditem que riquezas são coisas supérfluas e não necessárias para a vida. Afinal, quem precisa de um iPhone para sobreviver? Ou do carro do ano? Ou de uma mansão em Miami? No entanto, riqueza é TUDO aquilo que produzimos. Para ênfase: riqueza é TUDO o que produzimos. Riquezas não consistem apenas em itens de luxo (como talvez a palavra dê a entender). Quando plantamos o trigo e o colhemos, estamos produzindo riqueza. Ao colhermos uma maçã para comer, produzimos riqueza. Extrair o barro, cozir para transformar em tijolo e empilhá-lo para fazer uma casa é produzir riqueza. Transformar a madeira numa mesa ou em qualquer peça de móvel é produzir riqueza. Um rebanho de animais é riqueza — podem ser transformados em roupas e alimento. Riquezas são necessárias para nossa sobrevivência.


A boa parte disso tudo é que quanto mais produzimos riquezas, mais acessíveis elas se tornam. Quando um item é único no mundo, ele é valioso por causa de sua escassez — muitos o desejam, mas apenas um pode possuí-lo. Isso cria uma competição por quem pode pagar mais por aquele item, uma competição na demanda. Por outro lado, um item em abundância é acessível pois há uma competição (na oferta) por quem pode vendê-lo mais barato. Portanto, quanto maior a produção, mais barato um produto se torna. Reflita sobre um exemplo prático: a televisão. Nos anos 1950, a televisão era um item de luxo, acessível a poucos, no Brasil. A TV era um item escasso. A medida que o tempo passou e mais e mais televisões foram sendo produzidas e introduzidas no mercado, ela passou a se tornar mais barata e acessível para mais pessoas. Atualmente, no Brasil, quase todas as residências possuem uma TV, sendo que mais de 73% são de tela fina. Quer dizer: agora, não apenas quase todos possuem uma televisão, como a televisão da maioria é de boa qualidade. O mesmo aconteceu com os carros, celulares, computadores etc. Quanto mais e mais itens são produzidos e introduzidos na economia, mais eles se tornam acessíveis às classes mais baixas, pois eles deixam de ser escassos.


Já existiu um tempo em que as pessoas precisavam plantar e colher o próprio alimento. Nos dias de hoje, podemos buscá-la no supermercado (não precisamos realizar todo o trabalho — arar a terra, plantar, irrigar, esperar a colheita, colher, processar — pois outras pessoas o fizeram por nós. Achar que alguém é indigno de recompensa por todo esse trabalho é de uma ingratidão sem tamanho).


As tarefas poderem ser divididas consiste em uma imensa vantagem sobre o passado: alguém se dedica a produzir alimento e outro, a produzir televisão — não precisamos fazer tudo, pois alguém pode fazer por nós. Tudo isso só é possível por causa da criação de riqueza.


Lembre-se: a economia não é um jogo de soma zero. Isso significa que, ao trocar dinheiro por qualquer item que seja, ambas as partes desse negócio saem ganhando (o famoso ganha-ganha). Um enriquecer não empobrece o outro. O produtor recebe dinheiro em troca do trabalho fornecido, e o consumidor recebe o produto desejado. Esse ciclo permite a introdução de novas riquezas na sociedade e que o trabalho possa ser dividido.




O valor do trabalho


Regressando a uma questão do início: se as coisas essenciais para viver estão caras demais, isso significa que precisamos de mais dinheiro? A profundidade dessa pergunta é maior do que se parece de imediato. Se as coisas estão caras demais é porque a produção não está suprindo a demanda, ou porque há um excesso de dinheiro na economia. Se a produção não supre a demanda, os itens se tornam escassos, criando uma concorrência entre compradores — por quem paga mais, "por quem leva". O excesso de dinheiro na economia é algo que está fora do nosso controle, então deixaremos esse tópico de fora deste insight. Mas algo que está sob nosso controle é a nossa produção, o nosso trabalho. E ele é valioso. O nosso trabalho é que possui a capacidade de aumentar a produção de bens e serviços. Como consequência, recebemos recompensas pelo trabalho fornecido — não é isso, justo?


A tendência natural do ser humano é ser egoísta e fazer as coisas para si próprio — trabalhamos para recebermos o nosso salário no fim do mês. Mas, se deixarmos de pensar assim, o trabalho se torna, de certa maneira, uma virtude, pois deixaremos de trabalhar para nós mesmos, e passaremos a trabalhar para os outros (seja para o chefe, seja para o cliente). Enxergar isso é de extrema importância. Se quisermos trabalhar apenas para nós mesmos, teremos de realizar todas as tarefas, porque teremos que plantar, colher, construir, consertar. Nossa recompensa será apenas aquilo que nós mesmos produzimos. Se trabalharmos para os outros, no entanto, podemos nos concentrar numa tarefa em que fazemos bem — não precisamos ter de fazer tudo. Em gratificação, receberemos uma recompensa financeira — dinheiro, uma ferramenta que pode ser trocada por bens e serviços. Perceba que, ao trabalhar para os outros (tenha em mente que, trabalhar para os outros, atualmente, é praticamente qualquer trabalho, pois se somos empregados, trabalhamos para o chefe diretamente e, para os clientes, indiretamente; se somos empreendedores, trabalhamos para o público), pouco importa o que nós queremos, importa o que o outro quer. Se eu produzir um item que interessa a mim, mas não interessa a mais ninguém no planeta, além de estar sendo egoísta, eu não vou conseguir vender aquilo para ninguém, e não terei recompensa. A verdadeira recompensa está em trabalhar para os outros.


Voltemos a pensar nas pessoas ricas financeiramente — nos bilionários, se assim desejar. Se eles foram recompensados de forma tão significativa, é porque o trabalho que eles fizeram impactou muitas pessoas de maneira significativa, e não pelo "acúmulo de capital". Se eles desejassem apenas acumular capital, eles não iriam a lugar algum. Já ouviu aquela história de que se alguém poupasse US$ 10 mil todos os dias desde a construção das pirâmides do Egito até hoje, você não teria acumulado nem 20% da fortuna de uma das 5 pessoas mais ricas do mundo? Isso é verdade! Sabe por que disso? Porque essa pessoa teria guardado o dinheiro para si mesma, em vez de utilizar esse capital para investir e gerar riquezas para a sociedade. O capital têm de ser utilizado para beneficiar outros, caso contrário ele perderá valor.


Assisti a um curto vídeo do Pedro Cerize, sócio fundador da Skopos Investimentos, em que ele aborda brevemente a importância do trabalho e da produção. Ele menciona uma entrevista a Jeff Bezos em que perguntam se ele (fundador da Amazon) não acha injusto que um único homem possua 160 bilhões de dólares. Jeff Bezos responde que 'não', pois ele próprio possui US$ 160 bilhões, mas a Amazon vale US$ 1 trilhão. Isso significa que ele ganhou para os outros, US$ 840 bilhões. Sem contar no valor agregado e facilidades que a Amazon gerou para a sociedade.


Cantou Elton John em Circle of Life: "You should never take more than you give".

(Você nunca deve retirar mais do que o que você contribui).


Se a Amazon, a Tesla, ou a Apple valem o que elas valem hoje, é porque as pessoas enxergam valor naquilo que essas empresas produzem. Quem remunerou essas empresas foi o público, nós — o mercado — os que utilizamos os serviços prestados ou bem produzidos por essas empresas. Não é como se as empresas nos obrigassem a consumir um produto ou serviço delas. Enquanto possuímos liberdade, somos nós quem escolhemos e decidimos. E o mercado é soberano (o mercado é constituído pelas pessoas, por cada indivíduo, que, por sua vez, possui desejos e necessidades). Se as pessoas anseiam por algo e alguém as fornece, isso será bem recompensado; por outro lado, se as pessoas (o mercado) consideram um item a venda irrelevante, quem o produziu talvez não tenha recompensa alguma.




Se passarmos a punir as empresas por prestar serviços e produzir riquezas para a sociedade — através de impostos, por exemplo — isso será um fardo que a empresa terá de carregar. Ela produzirá menos (pois agora há um desincentivo para a produção), contratará menos (menos empregos) e os itens, se tornando mais escassos, ficarão mais caros. Isso não é bom para a sociedade, e quem mais sofre são os pobres pois, para eles, cada unidade monetária que se gasta a mais é significativa.


Então eu pergunto novamente: "Valorizamos mais o dinheiro ou o trabalho? Qual valor estamos dando ao trabalho? Não é o trabalho, uma virtude? Uma pessoa esforçada e trabalhadora não é de se admirar? Por que, então, não incentivar o trabalho?" Cada vez que se dá atenção exagerada ao valor monetário de algo (porque está caro), ignora-se o valor do trabalho de algo. O trabalho é valiosíssimo para a produção, e ele merece ser recompensado. Sem o trabalho, tudo encarece, a população empobrece, as diferenças sociais se agravam.


Ser financeiramente rico ou pobre não diz respeito ao valor monetário (nominal) do patrimônio de alguém, mas sim o quanto e o que se pode comprar com o dinheiro que se tem. (Repare como em países ricos, por exemplo, basta o salário de um trabalhador comum para ter uma vida boa — uma boa casa, um bom carro, comida de qualidade). Para que possamos comprar mais itens com uma mesma quantidade de dinheiro, precisamos produzir mais, precisamos ser mais eficientes. Um país não se torna rico pela abundância de dinheiro, mas pela abundância de riquezas disponíveis.


A famosa frase "o trabalho enriquece" é mais profunda do que se parece de imediato. Trabalhando enriqueceremos não só a nós mesmos, mas a sociedade como um todo. (A economia não é um jogo de soma zero. Se todos trabalharem em conjunto, todos saem ganhando). Através do trabalho é que produzimos e introduzimos novos produtos e soluções na economia que, por sua vez, com o decorrer do tempo e da produção, ficarão acessíveis a mais e mais pessoas.


O dinheiro é importante, pois é um grande facilitador de trocas. Mas sem o trabalho (sem a produção), o dinheiro não vale nada.

O trabalho sempre será mais importante que o dinheiro. Então, valorize o trabalho. Valorize as pessoas que produzem, que buscam solucionar problemas. Pague uma gorjeta àqueles que oferecem um bom serviço. Seja grato por tudo isso. Essas são, inclusive, pequenas atitudes que o ajudarão a levar uma vida melhor e mais agradável.





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